A HQ-reportagem Vozes Invisíveis retrata as vivências e desafios de ser mulher LBT em Campo Grande (MS).
A HQ-reportagem Vozes Invisíveis: Relatos de Resistência LBT em Campo Grande (MS), busca retratar as vivências de mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais na capital do Mato Grosso do Sul, unindo dados e fatos históricos às invisibilidades enfrentadas por essas mulheres, tudo apresentado com sensibilidade artística. A narrativa não se limita aos dados estatísticos, mas foca principalmente nas vozes de mulheres importantes do movimento LGBTQIA+ e em suas experiências de luta e resistência em um dos estados que mais registra assassinatos de pessoas LGBTQIA+ no Brasil.
A HQ é de autoria de Marina Duarte, mulher bissexual, com cinco anos de experiência em escrita, ilustração e pesquisa em quadrinhos. Marina tem trabalhos publicados em veículos como Revista Badaró, Mina de HQ, Le Monde Diplomatique e Catraca Livre.
As mulheres LBTs enfrentam uma dupla invisibilidade: primeiro por serem mulheres e, segundo, por não se enquadrarem nas normas da heteronormatividade. Além disso, dentro da própria comunidade LGBTQIA+, algumas identidades são mais invisibilizadas, como as mulheres bissexuais, que muitas vezes não são reconhecidas como tendo uma identidade legítima, enquanto outras, como as mulheres trans, sofrem níveis mais altos de violência.
Além de, em 2023, o Mato Grosso do Sul registrar o maior índice de mortes violentas contra a população LGBTQIA+ do país, segundo o Observatório de Mortes e Violências LGBTI+, o feminicídio corresponde a 58% dos assassinatos de mulheres no estado. E apesar desses dados alarmantes, ainda faltam muitas informações. De acordo com Marina durante a elaboração da HQ, constatou-se que a invisibilidade também está presente nos números. E essa ausência de dados oficiais compromete a formulação e a defesa de políticas públicas, perpetuando a exclusão e a violência contra a população LGBTQIA+. A HQ aborda essas e outras questões, oferecendo um recorte significativo sobre o que significa viver em um estado historicamente conservador.
E o formato HQ-reportagem utiliza uma linguagem acessível com elementos visuais que tornam os dados e histórias mais didáticos, explorando as sensibilidades através de expressões artísticas. Marina Duarte possui vasta experiência em jornalismo em quadrinhos e integra o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) da UEMS.
Publicada pela Avuá Edições, em formato de e-book, a obra será disponibilizada gratuitamente, com o objetivo de democratizar o acesso às informações e promover a ampliação da discussão sobre o tema. O site disponibilizará após o lançamento, a HQ completa para leitura online, além de uma versão em audiodescrição e conteúdos complementares e informações sobre o projeto e a equipe.
Nas palavras de Marina, “Trabalhar no Vozes (In)visíveis no último ano foi um desafio por vários fatores. Primeiro pelo fato de ser um tema urgente – e essa urgência se dá não somente nos dados, mas observamos dentro de cada mulher LBT as dinâmicas violentas que muitas de nós passam no dia a dia. Segundo pelo fato de que é um tema que me atravessa diretamente enquanto mulher bissexual, enquanto quem observou amigas e conhecidas perdendo suas vidas, sua dignidade e sofrendo muito por conta da LGBTfobia latente em nosso estado e em nossa cidade. A importância que dedico sobre o fato de falar sobre os atravessamentos sofridos pelas mulheres dentro da sigla LGBT+ me marcou desde o início do trabalho – o que decorreu até mesmo em crise criativa durante o processo. Mas concluo esse trabalho com a consciência de que a arte pode ser uma grande aliada na luta pelos direitos das mulheres lésbicas, bissexuais, travestis, trans e pessoas não binárias. Foi com essa intenção que surgiu o Vozes, na tentativa de responder: o que significa ser mulher LBT na cidade de Campo Grande?”
Equipe de Produção
O projeto, que durou quase um ano de produção entre entrevistas, levantamento de dados, escrita, preparação e audiodescrição, contou com uma equipe composta por Fabio Quill (consultor artístico e editor), Mayara Dempsey (produtora e preparadora de texto), Gabriely Magalhães (consultora e pesquisadora preliminar), Guilherme Correia (análise dos dados jornalísticos), Dudu Azevedo (diagramação) e Matias Rick (edição da audiodescrição).
Lançamento
O lançamento da HQ ocorrerá no dia 16 de janeiro às 19h na Casa de Cultura e contará com um bate-papo sobre o processo de criação e as vivências das mulheres LBTs em Campo Grande – MS. Além da autora, participarão as entrevistadas Daniele Rehling, Loren Berlin e Karla Melo, com mediação de Mayara Dempsey.
Daniele é professora e doutora em Educação pela UFSC, bacharel e licenciada em Ciências Sociais, pesquisadora do grupo CEUCI com foco na perspectiva feminista e colaboradora do Observatório de Gênero e Diversidade da UFPel. Loren é ativista da causa trans, artesã e performer, integrante da Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação. E Karla que é cientista social e assessora política nas áreas de direitos humanos, cidadania e cultura. Já coordenou o Núcleo de Educação para Igualdade e Cidadania da SPPM/MS.
O evento terá também uma apresentação do coletivo (a)seita, um grupo de mulheres artistas que utilizam performances e o slam para reivindicar espaço e amplificar as vozes femininas. O coletivo se apresentará com as artistas Pretisa, Ale Coelho, Giulia Scarcelli, Lady Afroo e Jeizzy.
A intenção vai além do lançamento da HQ: busca-se criar um momento de encontro onde mulheres LBTs possam compartilhar suas histórias e se expressar com o público em geral. Por isso, o projeto também valoriza a visibilidade dessas mulheres e suas manifestações, seja por meio do bate-papo, das performances ou até mesmo pela representatividade na equipe.
Financiamento
O projeto foi viabilizado pela Lei Paulo Gustavo e realizado com apoio da Prefeitura Municipal de Campo Grande, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.